Índia ultrapassa o Brasil e se torna o segundo país com mais casos de coronavírus

Mais de 4,2 milhões de pessoas foram infectadas pela doença no país. No domingo (6), Índia teve maior número de casos confirmados em um dia em todo o mundo.

Profissionais da saúde cuidam de pacientes com Covid-19 em hospital de Nova Delhi, na Índia, em 5 de setembro. — Foto: Danish Siddiqui/Reuters

A Índia ultrapassou o Brasil e se tornou nesta segunda-feira (7) o segundo país do mundo com mais casos de Covid-19, de acordo com dados do Ministério da Saúde indiano.

O país chegou a 4,2 milhões de infecções pelo novo coronavírus, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que têm mais de 6,4 milhões de casos confirmados.

O Brasil tem 4,13 milhões de infectados, mas é um dos países que menos testam no mundo, o que contribui para que o número de casos notificados seja menor do que os que existem de fato. Além disso, a população da Índia é cerca de 6 vezes maior que a do Brasil: são 1,3 bilhão de habitantes, contra 210 milhões no Brasil.

No domingo (6), a Índia bateu o recorde diário global de novos casos de Covid-19, com mais de 90 mil notificações de infecções pelo coronavírus. No mesmo dia, o Brasil teve 16,4 mil casos confirmados.

Assim como o Brasil, a Índia também tem tido problemas com testagem. Estados usam testes diferentes para diagnosticar a Covid-19, segundo uma reportagem publicada na revista científica “The Lancet” no sábado (5).

“Comparar as taxas de testes positivos entre diferentes estados tornou-se extremamente difícil”, afirmou à revista Rijo John, analista de políticas de saúde pública e membro sênior do Centro de Pesquisa de Políticas Públicas em Kerala, estado na costa indiana com o Mar Árabico.

“Mais e mais estados estão adotando testes de detecção rápida de antígeno, que são conhecidos por terem uma alta porcentagem de falsos negativos, e não utilizam os testes RT-PCR, padrão ouro, em sua capacidade total”, disse John.

Nem todos os estados fornecem dados sobre quantidade de cada tipo de teste estão sendo usados, segundo a “The Lancet”.

Mortes e subnotificação

Voluntários cavam cova para vítima da Covid-19 em um cemitério em Pune, na Índia, nesta segunda-feira (7). — Foto: Indranil Mukherjee / AFP

A Índia tem 71,6 mil mortes pela doença, segundo monitoramento da universidade americana Johns Hopkins. É o terceiro maior número do mundo, atrás de Estados Unidos (188,9 mil mortes) e Brasil (126,6 mil).

Mas especialistas alertam que o país asiático também tem subnotificação de mortes.

O epidemiologista Giridhara R. Babu, da Fundação de Saúde Pública da Índia, disse em entrevista à revista científica “The Lancet”, no sábado (5), que nas áreas rurais do país, onde vive a maior parte da população indiana, a maioria das mortes ocorre fora dos hospitais, o que pode atrasar a notificação.

“Dentre as mortes registradas pelo sistema de registro civil, apenas 22% são certificadas nacionalmente pelo médico com a causa da morte”, afirmou Babu.

O epidemiologista também destacou as deficiências em uma vigilância mais ampla.

“[O] Sistema Integrado de Vigilância de Doenças está coletando dados sobre mortes devido à Covid-19 em laboratórios e hospitais, mas perde as mortes daqueles que não foram testados”, disse Babu. “A verificação dos dados e o exame detalhado dos números de óbitos precisam ser feitos em vários hospitais e escritórios de campo”, afirmou.

Ele também enfatizou a necessidade de dados sobre mortalidade por todas as causas para compreender os efeitos da epidemia. “Os pacientes morrem devido a condições subjacentes e indisponibilidade de cuidados intensivos”, completou.

Um ponto que ainda não está claro sobre a contagem indiana é se as mortes suspeitas ou prováveis por Covid-19 estão sendo incluídas. A diretriz do Conselho Indiano de Pesquisas Médicas é que esse tipo de óbito seja incluído nas notificações, mas ela funciona apenas como orientação para os estados, sem ser obrigatória.

A pressão pública e da imprensa levou à recontagem do número de mortes em alguns estados indianos.

“Tamil Nadu [onde fica Chennai] acrescentou mais de 400 mortes pendentes. Maharashtra [onde fica Mumbai] também. Bengala Ocidental [onde fica Calcutá] costumava excluir todas as mortes com comorbidades das mortes de Covid-19, mas eles pararam com essas práticas”, afirmou Rijo John, do Centro de Pesquisa de Políticas Públicas em Kerala, à “The Lancet”.

Segunda onda

A Índia conseguiu conter, em um primeiro momento, a expansão do novo coronavírus com um rígido confinamento, que durou 70 dias. Desde julho, cerca de um mês depois do início da reabertura, o país vem registrando uma aceleração no número de casos de Covid-19. Em 17 de julho, o país ultrapassou a marca de 1 milhão de infecções.

Especialistas dizem que a pandemia vive uma segunda onda em algumas partes do país, que é o segundo mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes. O número de casos aumentou, porque mais exames estão sendo feitos e houve uma liberação parcial das locomoções da população.

Na capital, Nova Délhi, os serviços de metrô serão parcialmente retomados a partir desta segunda-feira.

O vírus se espalhou de grandes cidades para outras partes do país, disse Randeep Guleria, diretor do Instituto de Ciências Médicas da Índia em Nova Délhi, em entrevista ao India Today TV. O número de casos pode continuar a aumentar antes que a curva se estabilize, disse.

Fonte: G1.

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