Smartwatches e aparelhos de monitoramento da saúde têm precisão e utilidade questionadas

Segundo especialistas, tecnologias do tipo não podem ser principal indicativo de como está o corpo.

Smartwatches, smartbands e outros aparelhos que monitoram a saúde têm cada vez mais espaço no dia a dia das pessoas, com dados transmitidos para cuidar do corpo. Mas quais são os prós e contras de estar constantemente cercado por informação? E ela é realmente confiável?

A principal funcionalidade da nova geração do Apple Watch, um dos principais lançamentos da empresa no ano, foi voltada para a saúde. Um sensor checa o nível de oxigênio no sangue e uma luz é emitida no pulso do usuário para fazer as medições e mostrar os resultados em 15 segundos.

A Apple tomou cuidados com questionamentos jurídicos sobre a validade dos índices mostrados no relógio: “As medições de oxigênio no sangue não se destinam ao uso médico, não equivalem a uma consulta com um médico e devem ser utilizadas apenas para fins de condicionamento físico e bem-estar geral”.

Reportagens de grandes jornais norte-americanos como o “New York Times” e o “Washington Post” questionaram a precisão dos dados no relógio da Apple e até qual a utilidade de informações fornecidas.

Apple Watch Series 6 terá oxímetro, para monitorar níveis de oxigênio no sangue. — Foto: Reprodução/Apple

Desde 2019, empresas que produzem smartwatches tiveram autorização da FDA (Food and Drug Administration, a agência que atua como a Anvisa nos Estados Unidos) para incluir sensores de eletrocardiograma que poderiam detectar anomalias na saúde do usuário.

No entanto, uma análise realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard sobre a medição cardíaca dos smartwatches aponta que:

  • cerca de 30% dos dados fornecidos pelos relógios inteligentes não são interpretáveis ​​ou são imprecisos
  • fatores como a movimentação da pessoa, o ambiente e até a temperatura podem influenciar nos dados fornecidos pelos relógios
  • batidas ectópicas – quando o coração pula uma batida ou acrescenta uma batida extra – podem prejudicar a leitura por não serem captadas.

Mais informação, mais ansiedade?

“Muitas vezes essas ferramentas aumentam o nível de ansiedade das pessoas e não detectam problemas sérios de saúde. Aparelhos que monitoram sinais vitais, como frequência cardíaca, respiratória e possíveis arritmias são de difícil compreensão popular”, afirma Altacílio Nunes, Coordenador do Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

“No caso de uma pessoa que apresenta um nível de ansiedade elevado, o uso de determinado aparelho pode trazer um certo desespero em relação à saúde. No pior cenário, essa pessoa pode desenvolver um transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)”, aponta Alberto Filgueiras, Coordenador do Laboratório de Neuropsicologia Cognitiva e Esportiva da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Confiar 100% é arriscado

Segundo Filgueiras, os aparelhos devem ser utilizados apenas como ferramentas complementares no acompanhamento da saúde.

“Os smartwatches tendem a burlar os dados reais dos usuários. Por exemplo, existem casos em que o batimento cardíaco está a 160 por minuto e no aparelho aparece 140. Em casos graves, o aparelho pode minimizar a condição de uma pessoa que está prestes a ter um ataque cardíaco ou, o contrário, uma pessoa com o batimento normal pode se desesperar.”

Altacílio Nunes, da USP, diz que “o batimento cardíaco varia muito conforme as atividades realizadas durante o dia e isso não é considerado pelas ferramentas. O mesmo acontece em relação à oxigenação: é alterado conforme o ambiente e as atividades realizadas pelo individuo”.

Para Nunes, os aparelhos também podem gerar um abuso da procura por cuidados médicos desnecessários. Isso porque muitas vezes os usuários não possuem uma capacidade técnica para interpretar os dados disponíveis.

Como esses aparelhos podem ser úteis

Isso depende em relação ao objetivo da pessoa. Segundo Nunes, o monitoramento de peso é uma das funções que podem ser bem aproveitadas pelos relógios inteligentes. “De qualquer forma tudo tem que ser com cuidado para que essa tecnologia na palma da mão não se torne uma neurose”. Pesquisar e entender as funções do aparelho antes da compra pode ser uma saída.

Fonte: G1.

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