Internações por Covid aumentam 296% em um mês no Rio Grande do Norte

Internações por Covid aumentam 296% em um mês no Rio Grande do Norte
Leitos no Hospital João Machado no Rio Grande do Norte Natal RN. — Foto: Divulgação/Governo do RN/via G1 RN
Leitos no Hospital João Machado no Rio Grande do Norte Natal RN. — Foto: Divulgação/Governo do RN/via G1 RN

As internações por Covid nos leitos clínicos e críticos nas redes pública e privada de saúde aumentaram 296% em um mês. Os dados são da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) e foram analisados e divulgados pelo Instituto Santos Dumont (ISD) neste sábado (5).

O RN iniciou o mês de fevereiro com 408 pacientes hospitalizados pela doença – em 30 de dezembro de 2021 eram 103. Nesse mesmo período, foram registradas 134 mortes por Covid.

Até a sexta-feira (4), o RN contabilizou 7.768 vidas perdidas para o coronavírus, com óbitos ocorridos em todas as 167 cidades potiguares.

De acordo com o Regula RN, neste sábado a ocupação de leitos de UTI Covid era de 75% em todo o RN. Antes desse novo pico da doença em janeiro, diante da chegada da variante Ômicron, a última vez que essa taxa havia sido atingida foi em junho de 2021.

O estado tem batido também recordes de registros de novos casos confirmados da infecção e o número de óbitos também voltou a subir neste início de ano.

Além disso, as urgências das unidades públicas de saúde e dos hospitais privados registram superlotação de pacientes com sintomas da Covid, que se confundem com os da Influenza, à procura de atendimento.

Diante da cepa mais contagiosa, as equipes de saúde também estão desfalcadas pela doença, o que gera sobrecarga ainda maior no sistema de saúde.

“Nós estamos com o número de infecções muito mais alto do que a gente teve em 2020 e 2021. A Ômicron é bem mais transmissível. Nós estávamos, no mês de janeiro, em um período de férias, festas, de veraneio, de aglomeração, e isso resultou em um número absurdo de casos que a gente tem visto nas últimas semanas aqui no estado”, avaliou Carolina Damásio, preceptora multiprofissional infectologista do Instituto Santos Dumont (ISD).

O aumento de casos confirmados entre crianças e adultos chama atenção dos especialistas.

“Isso reflete, infelizmente, nas infecções de crianças. Se eu tenho mais adultos infectados, se eu tenho mais crianças expostas, e crianças infectadas. As notificações em crianças estão crescentes, aumentando aqui no estado, e as internações também estão crescentes”.

De acordo com Diana Rêgo, subcoordenadora de Epidemiologia da Sesap, o aumento de casos notificados ganhou força a partir da primeira semana de janeiro e bateu recorde na passagem para o mês de fevereiro.

“A Sesap vem fazendo um alerta para que todas as pessoas mantenham as medidas não-farmacológicas, em especial o uso da máscara e, na medida do possível, o distanciamento social. Para além disso, priorizar a vacinação. Nós temos um número de óbitos já supera o número que tivemos em dezembro (2021) e o perfil é de pessoas idosas, com comorbidades e que não possuíam o ciclo completo de vacinação (para a Covid)”, pontuou.

“A gente precisa que as pessoas completem o ciclo, tomem a terceira dose que é a nossa estratégia mais eficiente contra o coronavírus”, ressaltou.

O Rio Grande do Norte tem 203.615 pessoas com o ciclo vacinal contra a covid em atraso, conforme dados da Plataforma RN + Vacina.

Percentual crítico

O Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu uma nota técnica na quinta (3) detalhando as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid para adultos no SUS. Os números apontam crescimento da demanda e requerem “atenção e monitoramento contínuo”, segundo a entidade.

O relatório ponta que “13 estados apresentam aumento das taxas de ocupação e nove Unidades Federativas estão na zona de alerta crítico com indicador superior a 80%. Entre as 25 capitais com taxas divulgadas, 13 estão na zona de alerta crítico”. Natal está entre as capitais na zona de alerta crítico, com percentual de ocupação estimado em 89%.

A nota destaca que o cenário atual não é o mesmo entre março e junho de 2021, considerada a fase mais crítica da pandemia e ressalta que mesmo com o acréscimo de leitos observados nas últimas semanas, a disponibilidade é bem menor. Segundo o documento, o crescimento nas taxas de ocupação de leitos de UTI para adultos no SUS “é preocupante, principalmente frente às baixas coberturas vacinais em diversas áreas do país, onde os recursos assistenciais são mais precários”.

“Os pesquisadores alertam que uma proporção considerável da população que não recebeu a dose de reforço, e a população não vacinada, são mais suscetíveis a formas mais graves da infecção com a Ômicron e voltam a sublinhar que a elevadíssima transmissibilidade da variante pode incorrer em números expressivos de internações em leitos de UTI, mesmo com uma probabilidade mais baixa de ocorrência de casos graves”.

A Nota Técnica reforça também medidas como a exigência do passaporte vacinal. Os pesquisadores também sugerem a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos, campanhas para orientar à população e o auto isolamento ao apresentar sintomas, evitando a transmissão.

Municípios com mais óbitos por covid-19 no RN

  • Natal – 2.816
  • Mossoró – 607
  • Parnamirim – 562
  • São Gonçalo do Amarante – 241
  • Macaíba – 180
  • Caicó – 170
  • Açu – 159
  • Ceará-Mirim – 122
  • Areia Branca – 110
  • Apodi – 101

*Fonte: Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN)

Entrevista

Carolina Damásio, infectologista do ISD

  • Em relação à variante Ômicron, em que ela diverge das demais?

A gente ainda não tem muitos dados em relação à Ômicron e às crianças, para saber se ela seria pior, melhor, mais grave ou menos grave. Isso ainda está sendo estudado. O que a gente tem visto, em outros países, e que agora está acontecendo no Brasil, é o aumento das internações de crianças que a gente não tinha visto em outras épocas. As crianças fazem parte de uma população ainda vulnerável, pois não foram vacinadas. Essa vacinação demorou. Estava aprovada desde dezembro e só foi iniciada em janeiro. Então, a covid está atingindo crianças, em sua maioria, que não estão com o esquema vacinal completo, que ainda não foram vacinadas para a covid. A gente não pode dizer se esse aumento é só porque elas não estão vacinadas ou se essa variante poderia ser pior em crianças. Esse dado ainda não existe.

  • O Brasil sempre foi referência mundial no que diz respeito à imunização da população. Por quais motivos a vacina contra a covid-19 desperta tanta polêmica e divisão de opiniões?

Essa é uma coisa bem preocupante. No momento em que a gente mais precisa vacinar, essa hesitância está maior. Isso é uma coisa que vem preocupando muitos especialistas. Eu estava vendo dados do Brasil que a maioria dos pacientes adultos internados estão com a vacinação incompleta ou sem vacinação. A vacina desenvolvida e que está sendo aplicada em crianças, é muito segura. A gente viu dados que foram liberados nos últimos dias pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, que nas mais de oito milhões de doses aplicadas em crianças, pouquíssimos efeitos colaterais graves. Nenhuma morte relacionada à vacina.

  • Essa vacina é segura?

Ela é tão segura ou mais segura que a maioria das outras vacinas aplicadas no calendário de vacinação em crianças no Brasil. Infelizmente, com tudo isso que está acontecendo, com a disseminação de notícias falsas e coisas que não são verdadeiras, a gente está sofrendo e as nossas crianças estão sofrendo as consequências. Isso é uma coisa muito preocupante. Os pais que estão lendo ou assistindo essa entrevista, as crianças já podem ser vacinadas e atualizar o cartão o mais rápido possível. Estamos com reabertura de escolas, com a variante altamente transmissível e que está chegando nas crianças.

  • No RN, há aumento de internações de crianças?

Nós estamos acompanhando aqui no Rio Grande do Norte o aumento de internações de crianças, já tivemos casos este ano, no Brasil e no Estado, de morte nessa faixa etária. A gente precisa vacinar o mais rápido possível para diminuir essas internações e a mortalidade.

  • Entre 2020 e 2021, mais de 1.400 crianças morreram no Brasil pela covid-19. Se a vacina existisse antes, esse número poderia ser menor?

Até o final de 2021, em torno de 1.500 óbitos foram notificados relacionados à covid-19 em crianças. Se a vacina tivesse chegado antes, provavelmente, esses óbitos seriam bem menores ou até inexistentes. A covid-19 é uma doença passível de prevenção. A gente sabe como prevenir ela e já tem vacina. A gente não era para estar perdendo criança para uma doença que a gente já conhece como se previne e que já tem vacina.

  • Especificamente no Rio Grande do Norte, os casos voltaram a subir assustadoramente. Isso se deve à alta taxa de transmissibilidade da Ômicron, à disponibilidade de mais testes rápidos?

Esse é um cenário que está acontecendo internacionalmente. Há vários países batendo recordes em números de infectados desde o início da pandemia e em 2021. Provavelmente é pela maior transmissibilidade da variante mesmo, associada à redução do distanciamento social. Com o avanço da vacinação, os casos estavam mais controlados, estávamos em um cenário epidemiológico melhor e as medidas de isolamento, de distanciamento deixaram de existir e somaram com o verão, férias, festas e várias que propiciaram aglomerações. A gente tinha a combinação de duas coisas: a circulação de uma variante mais transmissível e a redução do distanciamento social.

  • Como isso tem refletido nas urgências e emergências do Estado?

Superlotação. As urgências estão lotadas, os profissionais estão cansados. Há muitos profissionais infectados, muitas equipes desfalcadas. Isso atrapalha, inclusive, para outras doenças que os pacientes continuam adoecendo de outras coisas e necessitando acessar os serviços de urgência e emergência. E a gente tem dificuldade para esses pacientes serem atendidos. Isso também reflete na pressão no sistema de saúde em relação às internações. Nós temos um número maior de pessoas infectadas e um número maior de complicações por covid-19, pois a maioria das pessoas internadas não estão com ciclo vacinal completo ou sequer foram vacinadas, e acabam precisando de internamento e posterior aumento da mortalidade.

Fonte: G1 RN.

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