Se for opcional, quando ainda devo usar a máscara contra Covid? É seguro ficar sem ela nos espaços abertos?

Se for opcional, quando ainda devo usar a máscara contra Covid? É seguro ficar sem ela nos espaços abertos?
Foto: prostooleh via Freepik
Foto: prostooleh via Freepik

A obrigatoriedade do uso de máscaras começa a cair progressivamente no Brasil e já é uma realidade em países como os EUA. Quando deixar de usar máscaras é seguro e quando devo me preocupar?

g1 ouviu especialistas que apontam que é preciso ter cautela com o cenário epidemiológico, e que mesmo em espaços abertos há casos em que o cuidado precisa ser mantido, mas que sim existem dados que podem basear a retirada das máscaras em determinados espaços.

Temos que pensar em comportamentos de menos riscos, não locais”, define Beatriz Klimeck, doutoranda em Saúde Coletiva na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) por trás da página “Qual Máscara?”.

Abaixo, nesta reportagem, veja respostas para as seguintes perguntas:

  1. Em quais casos é seguro deixar de usar máscaras?
  2. Quando ainda devo me preocupar com o risco de contaminação?
  3. Existem pessoas que precisarão usar máscaras 100% do tempo?
  4. Quando deve acontecer a liberação também em ambientes fechados?

Veja as respostas:

1 – Em quais situações é seguro deixar de usar máscaras?

“Menos de 1% dos eventos de transmissão ocorrem ao ar livre. Nessa ótica faz sentido [a liberação das máscaras em espaços abertos]”, diz Vitor Mori, pesquisador na Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19 BR.

Contudo, Mori explica que a questão não é apenas flexibilizar. Ele ressalta que é preciso uma comunicação mais efetiva do poder público e cobra que uma exigência com mais rigor do uso de máscaras em locais fechados.

“Todo o gestor está em busca disso [dessas flexibilizações], mas precisamos reforçar que ao ar livre não é risco zero”, acrescenta.
Máscara jogada no chão de Washington, capital dos EUA, em foto de 27 de maio de 2021. — Foto: Kevin Lamarque/Reuters/via G1
Máscara jogada no chão de Washington, capital dos EUA, em foto de 27 de maio de 2021. — Foto: Kevin Lamarque/Reuters/via G1

Quando temos uma situação com pessoas aglomeradas, falando próximas umas às outras, em um grande evento como um show ou um jogo de futebol, por exemplo, por mais que o risco seja pequeno (menos de 1%), esse índice aumenta por causa da quantidade de pessoas, argumenta Melissa Markoski, professora de Biossegurança da UFCSPA e membro da Rede Análise Covid-19.

“Então mesmo o risco sendo baixo, se temos mais pessoas conversando, por mais tempo, próximas umas às outras, você acaba permitindo a transmissão do vírus se não tivermos a barreira da máscara”, afirma Melissa.

“Temos que pensar em comportamentos de menos riscos, não locais”, acrescenta Klimeck.

O que é uma aglomeração?

Já Mori explica que um problema na avaliação de riscos em espaços onde há aglomerações é que esse é um conceito muito abstrato.

Ele ainda acrescenta que, embora a premissa “quanto mais pessoas, mais riscos” esteja correta, o fato de ter muita gente num determinado local aberto não faz com que o risco seja equivalente ao de um espaço fechado.

“Às vezes a gente tem a impressão de que quando vemos muita gente, temos uma aglomeração, mas não necessariamente isso é um contexto de risco tão grande assim”, diz.

“Aconteceu muito no começo da pandemia, com aquelas imagens de praias, locais abertos, bem ventilados, onde o ar circula bem. As pessoas falavam, isso é uma aglomeração. Não, é um ambiente aberto, e o risco é bem menor”.

2 – Quando ainda devo me preocupar com o risco de contaminação e devo continuar usando máscaras?

Os especialistas ainda defendem que espaços fechados e com alta densidade de pessoas exigem o uso de máscaras. Mesmo nos EUA, onde houve a liberação em regiões com bons indicadores, o governo federal exige o uso de máscaras em aviões, trens e outras formas de transporte público.

Carlos Zárate-Bladés, imunologista e pesquisador do Laboratório de Imunorregulação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ressalta que é preciso levarmos em conta que não existe um lugar “seguro”, mas sim uma forma de exposição que oferece menos riscos.

O imunologista explica que, como o vírus se espalha por microgotículas que são exprimidas por nós quando falamos e respiramos, quando o ambiente é fechado elas podem ficar por até duas horas no ar, tempo suficiente para serem inaladas por outra pessoa.

Já em ambientes abertos, onde há a circulação de ar, a contaminação é mais difícil.

“Se é um ambiente que as pessoas conversam muito, se é um ambiente que estimula o aumento da taxa de frequência respiratória, como academias, por exemplo [temos uma zona de maior risco]”, diz Markoski.

A questão toda tem a ver com o distanciamento, o período de exposição e o índice de vacinação, avaliam os especialistas. Markoski cita um estudo de 2020 publicado no periódico ‘British Medical Journal’ e diz que é sim possível estabelecermos zonas de maior e menor risco de contaminação.

Na pesquisa, os cientistas avaliaram que fatores como o uso de máscaras, o tempo de exposição, o nível de ventilação, a ocupação do lugar e o modo como as pessoas conversam em determinados ambientes influenciam no grau de risco de contágio pela Covid-19.

Já Klimeck, especialista em Saúde Coletiva, faz um alerta sobre outros espaços que exigem atenção.

“O ideal é pensarmos não apenas no lugar aberto que você vai frequentar, mas no trajeto até lá. Você vai passar por um elevador no seu prédio? Vai passar no mercado. É sempre bom levar em consideração toda a situação”, diz.

3 – Existem pessoas que ainda devem usar máscaras 100% do tempo?

O imunologista Zárate-Bladés ressalta que políticas gerais de saúde como a liberação das máscaras englobam a maioria dos casos, mas que é preciso uma avaliação particular de riscos.

“Precisamos ser precavidos. Se você tem comorbidades, fale com seu médico, para ver se ele libera você mesmo em ambientes abertos”, diz o imunologista Zárate-Bladés.

Markoski explica que algumas pessoas imunossurpimidas (pessoas com câncer, HIV, transplantados e outros com o sistema imune fragilizado) mesmo completamente vacinadas, não possuem um resposta tão desejada para a vacinação, por não possuírem uma memória imunológica tão efetiva.

A bióloga acrescenta que essas pessoas com comobirdades e também aquelas com obesidade não devem abolir o uso das máscaras mesmo em ambientes abertos porque o risco da contaminação é maior nesses casos.

“Então essas pessoas precisam evitar a contaminação. E para elas fazerem isso, ela precisam continuar apostando também nas medidas não farmacológicas”, diz.

“A gente sabe menos a respeito sobre a eficácia das vacinas nessas pessoas. A pessoa continuar se protegendo é bom. É um pouco chato, isso. Mas é preciso”, acrescenta Zárate-Bládes

4 – Quando deve acontecer a liberação em ambientes fechados?

O Rio, que havia liberado o uso da proteção desde outubro do ano passado, anunciou nesta semana que planeja estabelecer o fim da obrigatoriedade das máscaras em qualquer lugar já na próxima segunda (7), algo que é criticado pelos especialistas ouvidos pelo g1.

Na Inglaterra, desde o início de janeiro deste ano, a máscara não é mais obrigatória em ambientes fechados ou locais públicos. Fora isso, o governo também anunciou que o passaporte de vacinação para eventos com grande público não será mais exigido. Países como Suíça, Lituânia, Dinamarca e Áustria também anunciaram flexibilizações do tipo nas últimas semanas.

“Se alguma flexibilização é possível, é ao ar livre”, defende o pesquisador Victor Mori.

Para o especialista, os ambientes fechados deveriam ser os últimos a serem flexibilizados. Ele explica que a grande maioria dos eventos de transmissão ocorrem nesses locais e que identificar a circulação do vírus nessa situação é difícil, pois, por exemplo, são raros os espaços fechados que utilizam equipamentos de monitoramento de CO2 (aparelhos que indicam a baixa circulação do ar e maior risco de permanência de aerossóis).

Fora isso, Melissa Markoski, cita outros cenários de preocupação, como a lenta taxa de vacinação na África e na Índia e o fato de que as variantes do novo coronavírus tendem a surgir entre as pessoas não vacinadas.

“Eu acho que vai demorar bastante ainda. Precisamos esperar esse comportamento pós-Carnaval, observar se até o início de abril os índices vão cair e se nesse meio tempo não irá surgir nenhuma variante de preocupação no mundo”, diz.

Aliado a isso, Beatriz Klimeck argumenta que a retirada do uso de máscaras em qualquer espaço envia uma mensagem de que estamos num momento de menos risco, o que, para a pesquisadora, é preocupante.

De acordo com dados das secretarias de Saúde, o Brasil registrou em fevereiro maior número de mortes por Covid desde agosto. Fora isso, nesta semana, a Fiocruz indicou que há uma tendência de aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças no Brasil e que os idosos (a partir dos 60 anos) voltaram a ser os grupos com maior incidência semanal de casos e óbitos por SRAG com confirmação de Covid-19.

“A única medida preventiva que temos para a Covid-19 é o uso de máscaras. E estamos nessa corrida para liberar uma medida que é bastante efetiva e pouquíssimo custosa para a população”, diz Klimeck.

Fonte: G1.

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