A SAÚDE PÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE: UM RETRATO DO ABANDONO

A SAÚDE PÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE: UM RETRATO DO ABANDONO

Pré-candidato e sempre atuante por melhorias na saúde pública, o médico dr. Geraldo Ferreira, analisa sobre a gestão atual.

— Por Marclene Oliveira, Jornalista

Hospital Ruy Pereira 
Crédito: (Arquivo Ascom/Sinmed - 2020)
Hospital Ruy Pereira Crédito: (Arquivo Ascom/Sinmed - 2020)

Para além dos graves problemas enfrentados rotineiramente pelos serviços de saúde ofertado pelo sistema público de saúde, no Rio Grande do Norte, como falta de profissionais, de medicamentos e materiais cirúrgicos, além da ausência de uma estrutura física adequada, estão também os desafios de gestão.

Uma gestão que não preza pela defesa da saúde

O médico, anestesiologista e presidente licenciado do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed/RN), dr. Geraldo Ferreira, que é pré-candidato à deputado estadual (PTB), considera a atual gestão de saúde no estado despreparada, que não tem prioridades, e que não está em defesa da saúde.

“Vivemos com uma gestão que está substituindo e também deixando faltar o essencial. Médicos estão tendo que trabalhar com materiais cirúrgicos inadequados, por não terem escolhas, isso é um reflexo grave de uma péssima gestão”, afirmou.

Falta de materiais essenciais

O médico ressaltou ser inadmissível que procedimentos cirúrgicos, por exemplo, os médicos tenham que usar fio de nylon, ao invés de fio de aço, e que por ser um item inadequado, pode ocorrer de a suturação não resistir, gerando então complicações e o paciente acaba precisando ser reoperado.

Ele informou que a falta de itens em hospitais é comum, quando se fala de materiais básicos, e não do que é considerado essencial. O médico considera uma falha na gestão, neste caso em compras mal realizadas, que é de responsabilidade da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap). Por causa de denúncias sobre isso, inclusive, ele conta que oficializou uma queixa junto ao Ministério Público do Estado, no intuito de fazer com que essa a prática possa ser melhor fiscalizada.

“Existe a comissão de licitação da Sesap, que é responsável pela aquisição de insumos e materiais em geral para o funcionamento das unidades de saúde, e a gestão precisa primar pelo controle da qualidade, existem os critérios que respaldam uma compra segura, e com isso beneficia diretamente a população que será atendida com materiais devidamente adequados”, frisou.

Hospital Ruy Pereira 
Crédito: (Arquivo Ascom/Sinmed - 2020)
Hospital Ruy Pereira Crédito: (Arquivo Ascom/Sinmed - 2020)

Saúde da Família desassistida

Dr. Geraldo destacou que é preciso ampliar para 100% o número de Médicos de Família. Atualmente, apenas 60% das famílias no RN são atendidas pelo Programa de Saúde da Família (PSF), que visa garantir o acesso à atenção primária à saúde. O médico de família é capacitado para atender individualmente pacientes desde o nascimento, e podem lidar com até 80% dos problemas de saúde.

Para o presidente licenciado, é preciso garantir uma cobertura completa nesse atendimento, caso contrário, vemos o que há atualmente.

“Essa desassistência impacta diretamente aos pacientes diabéticos, cardiopatas e hipertensos, por exemplo, que apresentam um potencial de complicações, pela falta de atendimento especializado”, afirmou o médico.

Fechamento de hospitais

Dr. Geraldo aproveitou para ressaltar sobre o fechamento de alguns hospitais ocorridos durante a atual gestão, a exemplo do Hospital Doutor Ruy Pereira, na zona leste de Natal, e também do Hospital Regional de Canguaretama, o que classificou como um verdadeiro desastre para a população.

De acordo com o médico, mesmo apesar das péssimas condições, era o que garantia o atendimento para quem precisava. E que o ideal era que a administração buscasse corrigir pontualmente os problemas, ao invés de fechar as portas.

“Mesmo com toda a precariedade, o hospital ainda dava uma resposta para a população, com o fechamento, praticamente os pacientes foram jogados na rua, um verdadeiro descaso, até porque as outras opções de hospitais não teriam leitos para suportar a todos”, enfatizou.

Ainda de acordo com o presidente licenciado, o fechamento dessas unidades irá repercutir especialmente nos pacientes vasculares, pois o número de amputações lamentavelmente tende a aumentar.

Despreparo para tratar pacientes sequelados por covid-19

O anestesiologista destacou sobre a falta de preparo por parte do Estado quanto ao tratamento de pacientes que apresentam sequelas provocadas pela covid-19. Pesquisas científicas já apontam para uma série de sequelas, principalmente neurológicas, cardíacas e pulmonares deixadas pela doença.

“É preciso pensar em abertura de ambulatórios, uma força extra para cuidar e acompanhar esses pacientes”, disse.

Ele disse ainda que devido aos impactos da covid-19 para a saúde pública, muitos pacientes com comorbidades e complicações, ficaram dois anos sem um tratamento adequado e que isso vai afogar ainda mais os atendimentos.

Terceirização, precisa ser complementar

Ao abordar sobre a prática de terceirização dos serviços ligados à área da saúde, dr. Geraldo ressaltou que a gestão pública está se deixando entregar para a terceirização e que é preciso haver mais cautela e critérios quanto a isso.

Para ele, a terceirização é mais um instrumento nas mãos do gestor, mas que precisa exercer o papel complementar, sem distorções, priorizando pela qualidade e apresentando um histórico de prestação de serviços.

“Os processos licitatórios, por exemplo, devem ser mais transparentes, e prezar por critérios mais rígidos, que estejam de acordo com a nossa realidade, com profissionais devidamente especializados e aptos a atuarem”, ponderou.

Jornalista Marclene Oliveira e o Dr. Geraldo Ferreira.
Jornalista Marclene Oliveira e o Dr. Geraldo Ferreira.

Soluções

O médico foi enfático ao falar de soluções que ajudem a melhorar e organizar o sistema estadual de saúde: ampliar a assistência.

Segundo ele, é preciso melhorar o acesso à atenção básica e a todos os serviços ofertados pela rede.

Além disso, dr. Geraldo destacou sobre medidas cabíveis para melhorar a deficiência de profissionais, como por exemplo, a realização de concurso público, contratos temporários e seleção simplificada. Diante disso, evita-se o risco de corrupção e também uma série de problemas para a assistência, para os médicos e profissionais da saúde, e também para a população.

2 comentários sobre “A SAÚDE PÚBLICA NO RIO GRANDE DO NORTE: UM RETRATO DO ABANDONO

  1. A saúde pública do Rio grande do Norte em Natal e no interior que moro precisa melhorar e muito precária do básico ou seja um exame laboratorial a outras coisas é complicado!! E algumas pessoas que estão às vezes trabalhando pela primeira trata mal e não quer atender pelo fato de levar a politicagem pelo tempo que passa aquele tempo do seu candidato!! O gestor nem sabe mas o que de fato é ruim são os considerados bajuladores! Precisa melhorar com urgência!!

  2. ONDE SERÁ QUE OS GESTORES ESTÃO ERRANDO? O CURRÍCULO DO SECRETÁRIO É MUITO BOM, É MÉDICO! SERA QUE O SISTEMA ESTA ERRADO OU AS ESCOLHAS OU O CONJUNTO DA OBRA? Formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em 1980, é mestre em Ciências Sociais pela UFRN e doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É professor associado do Departamento de Saúde Coletiva da UFRN e tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Planejamento e Gestão em Saúde. Tem experiência em Políticas de Saúde, Gestão em Saúde, Sistema Único de Saúde (SUS), Gestão Municipal de Saúde e Hospitais Universitários, já tendo exercido cargos de direção no Ministério da Saúde (2003-2004) e de secretário municipal de Saúde de Natal (2013 a 2015). Foi pró-reitor de Extensão da UFRN e hoje é coordenador do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva.

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