Todo mundo doente? Síndromes respiratórias estão em alta; entenda por quê

Todo mundo doente? Síndromes respiratórias estão em alta; entenda por quê
Foto: katemangostar via Freepik
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O alerta já vem sendo tocado há algumas semanas: no Rio de Janeiro, um surto de gripe (doença provocada pelo vírus influenza) começou a lotar as salas de pronto-atendimento de hospitais públicos e privados. O que era apenas uma aparição atípica do vírus já é encarada agora como uma epidemia —e que chegou a São Paulo também.

A percepção de que “todo mundo” está doente, no entanto, já vem sendo notada há alguns meses. Em consultórios médicos, especialmente de pediatras, os especialistas constatam um aumento na busca por atendimento provocado por quadros gripais não necessariamente associados à covid-19 —ou seja, doenças que se manifestam com sintomas semelhantes como febre alta, congestão nasal, tosse, inflamação de garganta, dores de cabeça e no corpo e ainda sintomas gastrointestinais como diarreia e vômitos (embora menos comuns e mais frequentes em crianças). Mas, por que isso está acontecendo agora?

Surto fora de época

Especialistas ouvidos por VivaBem confirmam que, de fato, observaram um aumento de infecções respiratórias especialmente no segundo semestre de 2021 —justamente quando as medidas de isolamento social começaram a ser afrouxadas.

Além do influenza, outro vírus que voltou a circular com alta frequência foi o VRS (vírus sincicial respiratório), principal causa de internações em bebês e crianças pequenas e que pode provocar quadros de bronquiolite nesses indivíduos —mas que também tem acometido adultos.

Dados recentes da Fiocruz, por exemplo, indicam um aumento significante nos casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) entre crianças de zero a nove anos provocados pelo VRS.

De acordo com o médico Marco Aurélio Safadi, diretor do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e presidente do departamento de infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a volta às aulas presenciais e a flexibilização das medidas de restrição (incluindo a não obrigatoriedade do uso de máscara em alguns locais) abriram novamente o caminho para essas contaminações virais —que costumam se manifestar especialmente nos meses mais frios no Brasil, a partir de abril, e não em pleno verão.

Mas não é só isso. “Há uma leva de crianças que nasceu na pandemia e cresceu fechada em casa durante a quarentena, atrasando o primeiro contato com esses vírus, especialmente o VRS, o que as torna mais vulneráveis neste momento”, avalia o especialista.

No caso do influenza, o que preocupa é que a cepa observada com mais frequência no surto recente é a H3N2 “Darwin”, uma “versão” do vírus vinda da Austrália contra a qual as vacinas aplicadas no início do ano não são efetivas.

“Ela era esperada para a temporada de infecção de 2022 aqui no Brasil, que normalmente começa em março”, afirma Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

E, mesmo que exista a possibilidade de proteção cruzada (já que a vacina da gripe de 2021 oferece proteção contra um tipo diferente cepa da H3N2), sua “validade” no organismo pode estar prejudicada. “Normalmente, as vacinas da gripe costumam apresentar respostas mais altas por seis meses, justamente nos meses em que o vírus circula mais, em outono e inverno”, explica Safadi. “Ou seja, é muito provável que quem se imunizou no início do ano já esteja vulnerável às infecções novamente”, alerta.

Festival de vírus

Embora os patógenos mais citados atualmente sejam o VRS e o influenza, outros microrganismos também estão ressurgindo após uma temporada de baixa contaminação. É o caso dos vírus que provocam resfriados comuns, como rinovírus e adenovírus; o parainfluenza, um “primo” do influenza que também pode provocar sintomas respiratórios graves; e os enterovírus, que provocam sintomas gastrointestinais como diarreia, náuseas e vômitos.

E, infelizmente, esse cenário já estava anunciado. “Com o aumento de circulação de pessoas, doenças virais que têm transmissão facilitada pelo contato físico vão voltar a aparecer também”, afirma Alexandre Naime, médico infectologista e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Ele cita o exemplo das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), que podem apresentar um aumento de casos após as festas de fim de ano com medidas de distanciamento flexibilizadas.

Há, inclusive, o medo do retorno de doenças para as quais a cobertura vacinal está extremamente baixa, como o sarampo, a rubéola e até a poliomelite. “É urgente que as pessoas se vacinem, especialmente as crianças pequenas, para que possamos evitar a volta dessas doenças em um cenário de controle como o que tínhamos anteriormente”, afirma Ballalai.

Fonte: UOL Viva Bem por Danielle Sanches.

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