Cuidados com a voz ajudam a evitar surgimento de doenças vocais

Cuidados com a voz ajudam a evitar surgimento de doenças vocais

Tádzio França
Repórter

Ouvir a própria voz pode ser também uma questão de saúde. Instrumento primordial de comunicação e expressão, a voz nem sempre recebe os cuidados que garantem sua conservação saudável. Para se precaver contra o câncer de laringe e outras doenças que podem acometer a região, a Liga Contra o Câncer está participando de uma campanha nacional pensada para alertar sobre a importância da prevenção e diagnóstico das doenças vocais. A campanha também está associada ao Dia Nacional da Voz, celebrado no dia 16 de abril, e tem como tema “Cuidamos da sua voz para o mundo ouvir”.

Segundo o médico Luís Eduardo Barbalho, especialista em cirurgia de cabeça e pescoço da Liga, quanto mais cedo o diagnóstico do câncer de laringe, maiores são as chances de cura e preservação das cordas vocais. Ele explica que inflamações na laringe de forma repetitiva e crônica, quando se prolongam, tornam-se preocupantes. “Principalmente quando não melhoram com o uso de medicamentos de uso habitual, como anti-inflamatórios e antibióticos”, completa.

Os sinais de alerta, em geral, ocorrem quando a pessoa apresenta rouquidão persistente e, associado ao surgimento de nódulos no pescoço, deve-se suspeitar de câncer. O diagnóstico é realizado mais adequadamente através do exame de visualização da laringe (laringoscopia), realizado através de uma ótica à semelhança de uma endoscopia, onde é analisada a laringe, não apenas as cordas vocais, mas toda a estrutura do órgão, sendo possível a detecção precoce de uma lesão suspeita de câncer. A partir, daí o paciente é encaminhado a uma biópsia.

“Merecem atenção e alerta, em especial, fumantes e profissionais que utilizam abusivamente a voz em sua atividade laboral”, ressalta Luís Eduardo. O câncer de laringe está diretamente relacionado ao hábito de fumar e ingerir bebida alcoólica exageradamente. “As chances de tabagismo e alcoolismo favorecerem o surgimento de câncer de laringe é, pelo menos, 10 vezes maior em relação à população que não apresenta esses vícios”, alerta.

Além do abuso de tabaco e álcool, o uso abusivo da voz também é algo que pede cuidados – principalmente da parte de pessoas que trabalham de alguma forma com vocalizações. “O uso abusivo da voz permite uma maior suscetibilidade às lesões sobre a laringe. Alerta aos professores, locutores, operadores de telemarketing, cantores e etc., que devem sempre manter a adequada hidratação durante o seu trabalho, e periodicamente fazer exames de laringoscopia, especialmente, na presença de rouquidão persistente”, diz.

A maioria das pessoas costuma ser displicente com o uso de suas cordas vocais. Mas os cuidados não são difíceis de serem seguidos, afirma o médico. Inclui não fumar, evitar consumos de bebida alcoólica em excesso, cuidados com a alimentação e hidratação. Atenção, também, para as pessoas que apresentam inflamações do esôfago e estômago (esofagites e gastrites), que desenvolvem refluxo gastroesofágico.

“Nessas condições a inflamação pode comprometer, também, a faringe e a laringe, levando à irritação crônica das cordas vocais e, naturalmente, favorecendo a ocorrência de laringite e, dependo do grau de inflamação, até mesmo câncer. Portanto buscar tratamento de gastrites e esofagites também configura uma medida importante para evitar essa possibilidade de progressão da doença”, completa o médico.

O câncer de laringe é tratado primordialmente com cirurgia e radioterapia, dependendo do estágio na época do diagnóstico. “Obviamente, uma cirurgia ou irradiação sobre as cordas vocais causam seqüelas, as quais variam em função do segmento da laringe que foi envolvido pela doença”, ressalta Luís Eduardo. Cirurgias sobre a laringe podem retirar parcial ou totalmente as cordas vocais e áreas vizinhas.

Nos casos de retirada parcial da laringe ou radioterapia, a mudança do timbre, amplitude e clareza da voz estará comprometida. “Considerando a perda total a partir de uma cirurgia realizada para tumores mais avançados (laringectomia total), o paciente apresenta a seqüela mais devastadora, que é a perda de toda a laringe, e permanecerá respirando através de uma abertura da traqueia, que é posicionada no pescoço”, explica.

Em caso de perda total, o paciente passa a ser dependente de algum dispositivo para reabilitação vocal, como laringe eletrônica ou prótese vocal traqueoesofágica, caso não consiga desenvolver mecanismos de produção sonora natural via esofágica a partir de treinamento fonoterárpico, explica o especialista em cirurgia de cabeça e pescoço.

Em relação ao perfil de pessoas mais atingidas pela doença, o médico que é mais freqüente em pessoas do sexo masculino, acima dos 50 anos. “Isso não que dizer que em outra faixa etária ou no sexo feminino, não possa acontecer inflamações ou até mesmo câncer de laringe. Ainda há alguns casos diagnosticados em pacientes que nunca fizeram uso de fumo ou álcool abusivamente”, diz, ressaltando que algum perfil genético nesses pacientes possa estar implicado, e pesquisas futuras devam apontar para alguma direção.

Meia voz
A fonoaudióloga Josy Amorim afirma que para manter a saúde vocal, aconselha-se evitar o uso excessivo e abusivo da voz em qualquer ocasião. E falar baixinho nem sempre é certeza de estar fazendo o certo. “O sussurro, ao contrário do que se imagina, não preserva a voz, ele promove um fechamento incompleto das cordas vocais, conseqüentemente, forçando a região”, afirma.


O uso de sprays e gargarejos sem aval médico, segundo Josy, também é contraindicado, porque alguns dos produtos disponíveis no mercado têm propriedades anestésicas e fazem com que o indivíduo tenha a falsa sensação de melhora da voz, gerando mais esforço ao falar.

A alimentação também tem sua influência sobre a saúde das cordas vocais, ressalta a fonoaudióloga. “Alimentos muito ácidos, condi-mentados, salgados, ou com gorduras, podem favorecer o refluxo gastroesofágico, que é altamente irritante pra mucosa laríngea e pregas vocais. Temperaturas muito altas ou frias demais também agridem a região”, diz.

Quem passa por uma laringite e mesmo por um câncer de laringe, deve adotar procedimentos diversos para conservar a saúde vocal. “Em caso de laringite, que é um processo inflamatório. o paciente deve evitar falar muito no período agudo. Já para os pacientes de câncer glótico, após o tratamento e cura, é obrigatório o acompanhamento periódico com médico especialista e abolir totalmente o álcool e cigarro”, explica.

E ainda adotar alimentação mais natural, atividade física, e hidratação com ingestão de no mínimo 2 litros de água por dia. Segundo Josy, a voz entra em um processo de envelhecimento a partir dos 45 anos, e muda de fato a partir dos 65. Exercícios vocais e hábitos saudáveis podem reduzir os efeitos da idade sobre a voz.

Inserido no trabalho de reabilitação vocal dos pacientes laringectomizados totais, desde 2023 a Liga realiza a cirurgia de colocação de próteses traqueoesofágica. Josy explica que a prótese executa a função das cordas vocais. O resultado é a produção de voz com uma qualidade rouca, mas com menos esforço e de forma mais rápida.

Fonte: Tribuna do Norte.

*Imagem em destaque: Freepik

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