O mistério do Catar: país com muitos casos de Covid-19 e baixa mortalidade

Política de rastreamento sistemático, população jovem e um sistema de saúde eficiente são alguns dos motivos apontados por especialistas.

Foto de arquivo tirada em maio de 2020 mostra um hospital de campanha em Doha, no Catar, criado pelas autoridades para tratar pessoas infectadas com a Covid-19. — Foto: Karim Jaafar/AFP

O Catar tem a maior taxa de infecção pelo novo coronavírus do mundo, mas paradoxalmente registra um dos menores índices de mortalidade, graças a uma política de rastreamento sistemático, uma população jovem e um sistema de saúde eficiente — avaliam especialistas.

Com um total de 117.498 casos detectados de Covid-19, o Catar registra o diagnóstico positivo de 41.000 pessoas para cada milhão de habitantes.

O pequeno Estado do Golfo se tornou, assim, o país com o maior percentual de infectados no planeta, à frente do Bahrein (29.000 casos) e de San Marino (pouco mais de 21.000).

O Catar registra, no entanto, um número de mortes muito pequeno, com apenas 194 vítimas fatais desde o início da pandemia.

A que se devem tantos casos?

As autoridades de saúde respondem que o elevado número de infectados é resultado dos muitos testes para Covid-19, organizados de maneira sistemática.

Quase 600 mil pessoas foram submetidas ao exame de coronavírus no Catar, explica à AFP o presidente do grupo estratégico nacional da Covid-19, Abdellatif al-Khal.

O país registrou um forte aumento do número de infectados, associados à grande presença de mão de obra estrangeira (90% dos trabalhadores são migrantes), que atua, sobretudo, na construção das infraestruturas da Copa do Mundo de futebol de 2022.

Em uma dessas comunidades de migrantes, que vivem em locais pequenos e insalubres, foi detectado um dos primeiros focos de contágio no Catar.

Um profissional de saúde coleta uma amostra de um homem em um serviço de testagem drive-thru para a Covid-19 em Doha, no Catar, em maio de 2020. — Foto: Karim Jaafar/AFP

Como os testes são organizados?

Ao contrário do que acontece em países vizinhos, Doha concentrou os testes entre as pessoas mais suscetíveis ao contágio, ou seja, trabalhadores migrantes e residentes que retornam do exterior.

De acordo com fontes médicas, 25% dos exames apresentavam resultado positivo no momento de maior circulação da pandemia.

“Graças ao nosso programa de localização e de rastreamento e ao nosso aplicativo ‘Ehteraz’, estamos capacitados para ampliar a busca de pessoas infectadas (…) além de organizar testes aleatórios”, declarou Khal.

Luxemburgo é o país do mundo que realiza o maior número de testes de Covid-19, com 755 para cada 1.000 habitantes, enquanto o Catar, com 203 exames para cada 1.000 habitantes, é o nono.

Por que o número de mortes é tão baixo?

O Catar, um país muito rico com grandes reservas de gás, investiu muito no sistema de saúde. A população de trabalhadores migrantes muito jovens também favoreceu um dos menores números de mortes do mundo, segundo especialistas.

Apenas 194 pessoas faleceram no país, devido à COVID-19, de acordo com dados oficiais verificados pela AFP por meio de várias fontes independentes.

“A razão é que o país tem, provavelmente, um dos melhores sistemas de saúde. Estão bem equipados e bem preparados”, afirmou à AFP Abdinasir Abubakar, do departamento regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Mediterrâneo Oriental.

Uma segunda onda se aproxima?

O Catar registrou quase 300 novos casos por dia na semana passada, um número muito inferior aos 2.355 positivos detectados em 30 de maio, mas que reforça o temor de uma possível segunda onda epidêmica.

As autoridades “suspenderam algumas restrições, portanto podemos esperar um certo ressurgimento” do vírus, reconhece Abubakar.

O uso de máscaras é obrigatório tanto em espaços abertos como fechados, mas a multa de 2.700 dólares recebida pelo ex-jogador de futebol espanhol Xavi Hernández, que é técnico de um clube no país, é um exemplo da dificuldade de aplicar as medidas.

— Por France Presse.

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