Como a genética e inflamações na gravidez contribuem para o lábio leporino

Como a genética e inflamações na gravidez contribuem para o lábio leporino

Um estudo inovador conduzido por especialistas da Universidade de São Paulo (USP) e da University College London revelou a complexa interação entre fatores genéticos e ambientais durante a gravidez, que pode culminar no desenvolvimento de fissura labiopalatina, também conhecida como lábio leporino, em embriões. No Brasil, essa condição atinge uma em cada 650 crianças.

Embora as evidências apontem há algum tempo para a influência conjunta de fatores genéticos e ambientais na ocorrência da fissura labiopalatina, a natureza exata dessas interações permanecia obscura. A pesquisa recém-publicada na Nature Communications fornece agora uma visão mais profunda dessas relações.

Os cientistas notaram que muitos indivíduos com a malformação possuíam uma mutação no gene CDH1, responsável pela codificação da proteína E-caderina. No entanto, nem todas as pessoas com a mutação no CDH1 desenvolviam a condição, sugerindo que fatores além do geneticamente codificado estavam envolvidos.

Assim, a equipe direcionou seu foco para o ambiente inflamatório durante a gravidez. Experimentos in vitro com células humanas e in vivo com rãs e camundongos revelaram que fatores inflamatórios ambientais, tais como obesidade materna e infecções durante a gravidez, poderiam provocar uma hipermetilação no gene CDH1, processo que pode levar a malformações e doenças ao desregularem a expressão genética.

Descobriu-se que essa hipermetilação do CDH1, induzida pela inflamação, interrompe a migração das células das cristas neurais – essenciais para a formação dos tecidos faciais durante o desenvolvimento embrionário – causando a fissura labiopalatina. Contudo, é importante frisar que a inflamação por si só, sem a mutação do CDH1, não resulta na malformação.

Esse estudo sublinha a relevância da interação entre fatores genéticos e ambientais no desenvolvimento de fissuras labiopalatinas, oferecendo um novo entendimento que pode orientar futuras estratégias de prevenção e tratamento.

A equipe agora se propõe a investigar quais tipos específicos de inflamação, em combinação com a mutação do CDH1, podem culminar na malformação. Identificar esses fatores será fundamental para a formulação de medidas preventivas eficazes contra a fissura labiopalatina.

Os achados do estudo enfatizam a importância de uma abordagem personalizada na medicina – a chamada medicina de precisão – sugerindo que a combinação de fatores genéticos, como a mutação do gene CDH1, e ambientais, como a inflamação durante a gestação, estão por trás do desenvolvimento da fissura labiopalatina.

Ao decifrar quais tipos específicos de inflamação, combinados com a mutação do CDH1, podem resultar na malformação, os pesquisadores podem colaborar para o desenvolvimento de estratégias de prevenção personalizadas, incluindo o controle da inflamação durante a gravidez em indivíduos com a mutação do gene CDH1. Ademais, essa compreensão pode permitir uma previsão de risco mais apurada, um diagnóstico mais preciso e potencialmente tratamentos mais eficazes para a fissura labiopalatina, alinhando-se à filosofia da medicina de precisão.

Fonte: Academia Médica.

*Imagem em destaque: Academia Médica.

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